A vida humana na Terra propicia ao homem a busca de bens materiais, que o induz  a acreditar que a vida terrena focada nessas aquisições, é a condição necessária para que ele esteja vivendo nesse planeta, e que assim progrida e concorra para o progresso do mundo material que o acolhe.

O  homem experienciando a vida terrena vai desenvolvendo a razão, o intelecto, e o seu senso cosmoético, principalmente no mundo do trabalho que gera a sua manutenção, sobrevivência e meios de obtenção de bens, propriedades. Dessa maneira o homem recebe suportes e caminha para a sua evolução.  É um dever buscar conforto e bem-estar para nós mesmos e para os nossos. Não há nada de mau ou ruim obtê-los através do dinheiro, ou seja, não há nada de mau nos bens materiais. O mal na verdade é quando desenvolvemos o apego pelas coisas materiais.

É tão fácil percebermos em nós mesmos que quanto mais temos, mais queremos; que o desejo não tem limites por si mesmo, mas nós devemos impor limites! É muito comum que ao adquirimos algo tenhamos uma sensação muito boa de satisfação, é algo gratificante, mas repare que essa sensação nunca dura muito tempo. E então logo depois queremos mais, e sempre mais coisas. Vivemos assim num círculo vicioso.

Através do prazer proporcionado pelos bens terrenos, o homem é levado muitas vezes ao abuso e aos excessos. É com o uso da razão juntamente com a maturidade espiritual conquistada, é que o homem pode ir aprendendo a usar de maneira correta os bens materiais em seu benefício não apenas físico mas principalmente espiritual.

Todo excesso na vida humana e todo abuso nos conduz à conseqüências desagradáveis, e quanto mais forem os excessos de toda espécie, mais sofridas serão as conseqüências, podendo levar o homem às doenças, aos crimes, aos desequilíbrios, ao afastamento de sua programação existencial.

Não devemos dar excessiva importância às riquezas terrenas porque elas são suportes, ou seja, são apenas instrumentos de trabalho espiritual. As riquezas materiais são transitórias; nós possuímos títulos como um  empréstimo; porque quando partimos para o mundo espiritual nós deixamos tudo aqui e muitas vezes perdemos antes mesmo de desencarnar.

Hoje em dia asociedade  nos  impõe critérios de conquistas materiais, de se adquirir ganhos porque sempre defende que os bens físicos e tangenciáveis são tudo na vida de uma pessoa. Pregam para nós que o dinheiro é o essencial para sermos felizes, e assim a nossa vida vai cada vez mais girando em torno das coisas materiais. Mais do que nunca os padrões atuais são medidos pelo que você possui materialmente e não pelo que você é como ser humano. O Ter vai ficando mais importante do que o Ser.

Vale lembrar que  o desejo de conquistas materiais não é ruim. O desejo nos impulsiona para frente, para o progresso. O problema é o apego e a obsessão que criamos e desenvolvemos por todas essas coisas do mundo material. Podemos e devemos possuir, mas não sermos possuídos. E é isso que acontece quando nos apegamos às coisas.

O nosso apego aos bens terrenos é um dos mais fortes entraves ao adiantamento espiritual.  O tesouro espiritual são outras conquistas como as boas ações fraternas, o amor universal, a assistência ao “outro”, a inteligência, os conhecimentos e as qualidades nobres. São estas que pertencem ao espírito e o acompanham definitivamente ao mundo espiritual.

Allan Kardec elucida a esse respeito ao comentar a pergunta 816 de O Livro dos Espíritos:

“A alta posição do homem neste mundo e o ter autoridade sobre os seus semelhantes são provas tão grandes e tão escorregadias como a desgraça, porque, quanto mais rico e poderoso é ele, tanto mais obrigações tem que cumprir e tanto mais abundantes são os meios de que dispõe para fazer o bem e o mal. Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo emprego que dá aos seus bens e ao seu poder. A riqueza e o poder fazem nascer todas as paixões que nos prendem à matéria e nos afastam da perfeição espiritual. Por isso foi que Jesus disse: “Em verdade vos digo que mais fácil é passar um camelo por um fundo de agulha do que entrar um rico no reino dos céus.”

Perceba que não nos foi recomendado o abandono das responsabilidades familiares, mas solicita que esses deveres não se sobreponham aos deveres maiores da evolução intelecto-moral do espírito e do trabalho no Bem Maior. É mais uma vez a confirmação de outro ensinamento “Buscai primeiro o Reino de Deus e a Sua Justiça e as demais coisas vos serão acrescentadas” (Mateus, 6:33).

Como podemos adquirir bens espirituais na vida terrena? Os bens espirituais são valores espirituais a serem conquistados ao longo da vida.  Alguns exemplos:

  •  A generosidade, em vez do egoísmo.
  •  A sinceridade, em vez da mentira.
  •  A doçura, em vez da violência.
  •  A bondade, em vez da crueldade.
  •  A honestidade, em vez da corrupção.
  •  A justiça, em vez da injustiça.
  •  A coragem, em vez da covardia.
  •  O amor, em vez do ódio.
  •  A compaixão, em vez da indiferença.
  •  A solidariedade, em vez da inveja.
  • A boa vontade, em vez da intolerância.
  •  A compreensão, em vez da prepotência.
  •  A humildade, em vez da arrogância.

“Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu“. –  (Mateus 6:19-20).