Em vez de se julgar e criticar impiedosamente a si mesmo por várias inadequações ou deficiências, perceba que o o ato de viver internamente a autocompaixão é um movimento interno saudável para se aprender a ser gentil e compreensivo quando confrontado com falhas pessoais – afinal, quem disse que você tem que ser perfeito?

Você pode tentar mudar o seu comportamento íntimo de muitas  maneiras que lhe permitam ser mais saudável e feliz, mas isso só pode ser feito porque você se preocupa consigo mesmo e com as suas relações interpessoais, e não porque você seja uma pessoa inaceitável.

Talvez o mais importante no ato de compaixão por si mesmo é vivê-lo de  forma amorosa,  o que significa que você honra e aceita sua humanidade. Nem sempre as coisas vão acontecer do jeito que você quer. Você encontrará frustrações, perdas ocorrerão, você cometerá erros, esbarrará em suas limitações, ficará aquém de seus ideais. Esta é a condição humana de todos nós, uma realidade partilhada por todos aqueles que vivem nesse planeta.

Quanto mais você abrir seu coração para esta realidade em vez de lutar constantemente contra ela, mais você será capaz de sentir compaixão por si mesmo e por todos os seus semelhantes na experiência da vida. Ter compaixão por si mesmo não é diferente de ter compaixão pelos outros. Pense um pouco mais em como é a experiência da compaixão.

Primeiro, para ter compaixão pelos outros, você deve perceber que eles estão sofrendo. Se você ignorar aquele morador de rua na rua, não poderá sentir compaixão por quão difícil é sua experiência. Em segundo lugar, a compaixão vai além e envolve sentir-se tocado pelo sofrimento dos outros, de modo que seu coração responda à dor deles (a palavra compaixão significa literalmente “sofrer com”).

Quando isso ocorre, você sente calor humano, carinho incondicional e o desejo de ajudar de alguma forma a pessoa que sofre. Ter compaixão também significa que você oferece compreensão e bondade aos outros quando eles falham ou cometem erros, em vez de julgá-los com severidade. Finalmente, quando você sentir compaixão pelo outro (ao invés de mera pena), significa que você já percebeu que o sofrimento, o fracasso e a imperfeição fazem parte da experiência humana compartilhada.

A autocompaixão envolve agir da mesma maneira em relação a si mesmo, principalmente quando você está passando por um momento difícil, vivenciando uma falha cometida ou percebe algo de que não gosta em si mesmo. Em vez de simplesmente ignorar sua dor com uma mentalidade orgulhosa, você pode  parar  e dizer a si mesmo “isso é realmente difícil agora”, “como posso me confortar e cuidar de mim mesmo neste momento?”

A autocompaixão implica ser caloroso e compreensivo com nós mesmos quando sofremos, falhamos ou nos sentimos inadequados, em vez de ignorar nossa dor ou nos flagelar com autocrítica ácida e destrutiva. Pessoas autocompassivas reconhecem que ser imperfeito, fracassar e enfrentar dificuldades na vida é inevitável, então elas tendem a ser gentis consigo mesmas quando confrontadas com experiências dolorosas, em vez de ficarem com raiva quando a vida fica aquém dos ideais estabelecidos.

As pessoas nem sempre podem ser ou obter exatamente o que desejam. Quando essa realidade é negada ou combatida, o sofrimento aumenta na forma de estresse, frustração e autocrítica exacerbada. Quando essa realidade é aceita com simpatia e bondade, experimenta-se uma maior equanimidade emocional.

A vontade de observar nossos pensamentos e emoções negativos com abertura e clareza, é um bom caminho para que sejam compreendidos com consciência plena. A atenção plena é um estado mental receptivo e sem julgamento, no qual a pessoa observa os pensamentos e sentimentos como eles são, sem tentar suprimi-los ou negá-los. Não podemos ignorar nossa dor e sentir compaixão por ela ao mesmo tempo.

A frustração por não ter as coisas exatamente como queremos costuma ser acompanhada por uma sensação irracional,  como se “eu” fosse a única pessoa sofrendo ou cometendo erros no planeta. A própria definição de ser “humano” significa que alguém vulnerável e imperfeito. Portanto, a autocompaixão envolve reconhecer que o sofrimento e a inadequação pessoal fazem parte da experiência humana compartilhada – algo pelo qual todos nós passamos, em vez de ser algo que acontece apenas “para mim”.

Autocompaixão não é autopiedade.

Quando os indivíduos sentem autopiedade, eles ficam imersos em seus próprios problemas e esquecem que os outros têm problemas semelhantes. Eles ignoram suas interconexões com os outros e, em vez disso, sentem que são os únicos no mundo que estão sofrendo. A autopiedade tende a enfatizar sentimentos egocêntricos de separação dos outros e exagerar a extensão do sofrimento pessoal.

A autocompaixão, por outro lado, permite também ver as experiências relacionadas de si e do outro sem esses sentimentos de isolamento e desconexão. Além disso, indivíduos com autopiedade muitas vezes se deixam levar e se envolvem em seu próprio drama emocional. Eles não conseguem recuar de sua situação e adotar uma perspectiva mais equilibrada ou objetiva.

Em contraste, ao assumir a perspectiva de um outro compassivo em relação a si mesmo, O “espaço mental” é fornecido para reconhecer o contexto humano mais amplo da experiência de alguém e para colocar as coisas em uma perspectiva mais ampla.

Você pode pensar: “Sim, é muito difícil o que estou passando agora, mas é normal e natural que o ser humano tenha dificuldades às vezes. Não estou sozinho…”