O perdão é uma decisão pessoal, uma escolha consciente em deixar de lado os sentimento de raiva, mágoa ou de ressentimento  guardados dentro de nós em relação a uma pessoa que cometeu um erro, uma falha…. conosco. 

Perdoar retira uma mágoa de dentro de você, dessa maneira é um ato de liberdade interior. Você se desprende do outro, solta as algemas doentias. Assim, nós até lembraremos do fato, mas aquilo não nos machuca mais.

Perdoar ou Ser Perdoado?

Embora o termo “perdão” geralmente possa nos  trazer à mente os conceitos religiosos, o perdão não precisa ter nada a ver com religião. O perdão também não significa que você se esqueceu de uma ofensa recebida. A memória cerebral sempre vai nos lembrar de fatos ocorridos em nossas vidas, principalmente quando são vinculados com fortes doses de emoções. O perdão em vez disso, faz você lembrar e reconhecer aquela situação, aquela ofensa,  e tomar uma decisão consciente de deixar de lado a dor que lhe causou.

Ao perdoar alguém, não é necessário que você continue se relacionando com o ofensor, mas sim é necessário se reconciliar com a ofensa que ele lhe fez e com a pessoa dele, e passar a não sentir nenhuma emoção ou sentimentos mais densos, desequilibrados, intensos.

Equívocos de perdão podem ser muito prejudiciais, especialmente no caso de um  relacionamento doentio ou violento. Alguns podem estar inclinados a pensar que a reconciliação entre as partes ocorre junto com o perdão, mas isso nem sempre é verdade ou até possível. As vezes, como maneira protetiva, o melhor é ficar distante do ofensor.

Por exemplo, alguém pode perdoar um ex-marido que cometeu abusos psicológicos e físicos, mas pode ser totalmente prejudicial, tanto mental quanto fisicamente, manter uma conexão com essa pessoa abusadora que precisa de ajuda para se curar. Perdoar não é passar a mão na cabeça do ofensor e tão pouco jogar a sujeira para debaixo do tapete. Certo?

É possível perdoar alguém sem minimizar ou até negar a ofensa recebida. O perdão também pode levar tempo para ser concedido pela pessoa que foi ofendida, especialmente se a ofensa for grave, como essa que foi o exemplo citado acima. Quando alguém causa danos significativos, deliberadamente ou acidentalmente, o verdadeiro perdão pode ser um profundo desafio existencial. A maneira pela qual uma pessoa é capaz ou não de perdoar,  depende em parte da definição de perdão dessa pessoa.

Desenvolver empatia  muitas vezes pode levar ao perdão. Para muitos, o perdão é simplesmente o ato de passar por cima de uma ofensa e não guardar rancor. Para outros, o processo de perdoar alguém requer a reparação do relacionamento. Embora muitas pessoas sintam que a reconciliação possa ser  um passo importante no processo de perdão, elas geralmente também são capazes de ver os dois processos como separados.

O perdão é muitas vezes necessário no caso de uma ofensa percebida contra sí por  parte de amigos próximos, colegas de trabalho, chefes ou famíliares, principalmente quando uma pessoa diz coisas ofensivas devido a diferenças éticas ou morais, ou como resultado da estigmatização ou desrespeito pela identidade ou crenças de alguém.

Algumas pessoas podem ser capazes de perdoar os outros utilizando esses recursos mentais e emocionais:

  • Entendem porque a outra pessoa fez algo errado, muitas vezes falando sobre o assunto.
  • Sentem empatia com a posição da outra pessoa.
  • Evitam concentrar-se na raiva ou na tristeza dirigida à pessoa que fez o mal.
  • Refletem sobre as vezes em que  magoaram outras pessosa e tratam o perdão do seu ofensor como o perdão de si mesmo.
  • Dizem ao ofensor que ele está perdoado.
  • Se dedicam e aplicam ensinamentos espirituais, culturais e/ou religiosos.
  • Buscam estratégias que estimulem o autoconhecimento e respostas saudáveis a episódios que geraram traumas. A psicoterapia é um bom exemplo.
  • Refletem sobre as consequências negativas de guardar rancor, como o desenvolvimento de doenças como diabetes, câncer, doenças do coração, AVC….

O Perdão Traz Benefícios Físicos e Mentais

Se você precisa de bons argumentos para repensar suas atitudes, a ciência tem mostrado que o perdão pode trazer benefícios para a saúde física e mental. Isso não significa que iremos relativizar ou esquecer o que aconteceu, mas podemos dar um passo adiante no assunto. Certo?

A vida é imprevisível e por ela seremos testados e submetidos a diferentes situações, seja uma traição em um relacionamento ou o fim trágico de uma amizade. Assim, um insulto feito por um colega de trabalho ou uma discussão familiar provavelmente fizeram parte da sua vida.

A grande questão é, guardaremos sempre essas situações conosco ou iremos trilhar outros caminhos a partir do perdão?

o perdão está ligado ao ato de se desprender de um estado de ruminação que traz sofrimento mental, mas isso não significa um apagamento da situação que levou ao trauma. Lembrar diuturnamente da ofensa recebida  pode adoecer uma pessoa, no sentido de desenvolver uma depressão ou o estresse pós-traumático.

Estudos científicos mostram que rememorar situações e trazer à tona sentimentos e episódios emocionalmente desgastantes podem afetar a saúde. Isso porque há uma influência nos níveis de tristeza ou raiva, sentimentos que, em excesso, prejudicam o equilíbrio emocional. Já o ato de perdoar pode reduzir o risco de ataques cardíacos, o nível de colesterol, melhorar a qualidade do sono, além de regular os níveis de estresse, depressão e ansiedade, segundo um levantamento feito pela Johns Hopkins.

O Perdão Liberta as Ruminações Mentais

e Devolve o Bem-Estar

O perdão geralmente beneficia mais o ofendido do que o ofensor, que é a pessoa que está sendo perdoada. Aqueles que são capazes de perdoar alguém que os ofendeu podem experimentar resultados significativos ao fazê-lo. Estudos mostram que a incapacidade ou falta de vontade de perdoar pode ter um impacto negativo na saúde mental e no bem-estar, muitas vezes contribuindo para condições crônicas de infelicidade constante e psicossomatização. Os benefícios pessoais do perdão podem ser grandes: podem incluir maior felicidade , melhor saúde e relacionamentos mais fortes.

As pessoas que perdoam mais os outros demonstraram ser mais felizes e menos propensas a experimentar os efeitos negativos do estresse na saúde. Elas geralmente são mais capazes de resolver conflitos e com maior facilidade, reparam relacionamentos danificados com amigos ou parceiros e podem experimentar níveis mais altos de empatia e sentimentos mais positivos em relação às pessoas em geral.

Elas também podem ser mais resistentes a doenças do que aqueles que guardam ressentimentos, como raiva, mágoa, ódio, sentimento de vingança, pois estudos já mostraram  que as pessoas que guardam rancor podem ter maior probabilidade de ter um sistema imunológico muito comprometido e a saúde mental absolutamente deteriorada.

PERDÃO DO EU

O perdão não envolve necessariamente os outros. Ao longo da vida, pode ser necessário perdoar a si mesmo por um ato errado, real ou percebido. Algumas pessoas que fizeram escolhas das quais se arrependeram mais tarde podem ter dificuldade em se perdoar por fazer essas escolhas.

As pessoas também tendem a se manter em níveis mais altos de responsabilidade do que outras pessoas e, como resultado, podem ter mais dificuldade em perdoar a si mesmas do que perdoar outra pessoa que cometeu uma ofensa semelhante contra elas.

Pesquisas mostram que aqueles que se perdoam prontamente depois de cometer erros podem experimentar uma redução na empatia e podem estar menos inclinados a fazer as pazes com a outra parte. O autoperdão pode ser mais eficaz e benéfico quando inclui uma reflexão cuidadosa sobre o erro, admissão do erro, empatia pela outra parte e algum tipo de reparação pela ofensa.

Como manter sentimentos de raiva ou outras emoções negativas, mesmo aquelas direcionadas a si mesmo, pode levar a uma diminuição do bem-estar emocional, mental e físico, perdoar a si mesmo é importante. No entanto, pode levar tempo. Quando alguém tem dificuldade em perdoar a si mesmo, problemas como ansiedade , depressão e estresse podem resultar, e essas condições podem causar sintomas físicos como pressão alta, dor e fadiga ou levar à automutilação . As pessoas que guardam rancor contra si mesmas também podem ser mais propensas a se envolver em comportamentos arriscados e perigosos, como abuso de drogas e álcool .

Você Conhece a Terapia do Perdão?

A maioria de nós foi ensinada sobre a importância do perdão. No entanto, muitos de nós conhecem alguns caminhos para a cura, e sabem principalmente que é mais fácil falar do que fazer. Todos nós já estivemos em situações ou tivemos que lidar com pessoas que nos prejudicaram ou nos feriram de alguma forma no passado ou no presente. Quando injustiçados, normalmente nos encontramos abrigando sentimentos de traição, raiva ou a necessidade de buscar vingança para retornar a um senso de normalidade.

Há uma perspectiva de perdão que pode surpreender algumas pessoas: O perdão não é um ato altruísta, não é um benefício concedido e  exclusivo destinado à pessoa que o prejudicou. Em vez disso, trata-se de autocura, empoderamento e liberação. Se não encontrarmos dentro de nós mesmos recursos para perdoar, gastamos muito de nossa energia pensando nos aspectos negativos da ofensa em nossas vidas. Ficamos doentes com isso, temos flashbacks e perdemos nosso tempo pensando em lembranças do passado que nos machucaram no presente. Muitas pessoas guardam memórias dolorosas por anos, décadas. Tem pessoas que morrem ressentidas.

Os psicoterapeutas podem ajudar seus clientes a superar sua raiva e dor que estão ligadas a eventos do passado. Olhando para o papel útil que o perdão pode desempenhar no processo de cura.

Perdoar é saber que você foi ferido, aceitar essa dor como sua, então permitir-se continuar com sua vida cotidiana. Você faz isso aceitando a situação dolorosa para que ela não se torne um fardo para você diariamente. O perdão não faz vista grossa para o mau comportamento de ninguém. Isso não significa que você esquece a ofensa pois você tem memória, significa apenas que você resolveu o conflito interno dentro de você, que você lembra da ofensa mas não sente mais nada em relação ao ofensor, como raiva, ódio, mágoa.

Então, por que o perdão é importante? E como você sabe quando é hora de perdoar? Se você está buscando consolo em substâncias como drogas e álcool ou se engajando em comportamentos não saudáveis ​​como automutilação, comportamento sexual de risco, está deprimido , estressado e/ou ansioso. Talvez seja hora de tentar perdoar, mesmo o que lhe parece imperdoável. Os benefícios do perdão para a saúde mental estão bem estabelecidos na comunidade terapêutica e, como tal, muitas vezes é importante que aqueles que se sentem vitimizados aprendam a perdoar para se sentirem melhor.

Algumas pessoas podem perdoar mais facilmente, enquanto outras demoram muito mais. O ato de perdoar é perceber que apegar-se à raiva e ao ressentimento carrega um grande peso sobre nós. Quando perdoamos, em vez de apenas ver nossa dor e sofrimento, podemos começar a ver a situação com total aceitação e resiliência.

Embora haja uma variedade de definições de perdão, pesquisas sugerem que todas elas têm 3 componentes comuns:

  1. Obter uma visão mais equilibrada do ofensor e do evento que você viveu,
  2. Diminuir os sentimentos negativos em relação ao ofensor e potencialmente aumentar a compaixão
  3. Desistir do direito de punir ainda mais o infrator ou exigir restituição

Pesquisas sugerem que um obstáculo que as pessoas muitas vezes enfrentam com o perdão é a ideia de ser visto como “fraco” e ter a ideia de que o perdão dá ao ofensor um “passe livre”. No entanto, de muitas maneiras, é preciso muito mais força para perdoar. Não é fácil deixar ir, encontrar a paz e seguir em frente quando você se sente violado.

Por que buscar um terapeuta?

Se você tiver problemas com a capacidade de perdoar por conta própria, é hora de procurar ajuda. Muitas vezes precisamos da ajuda de uma parte neutra que nos permita reconhecer padrões prejudiciais, áreas que exigem mudanças e navegar por tempos difíceis.

Coloque seus sentimentos à tona, tendo alguém para ouvi-lo e ajudá-lo a formular um plano para recuperar sua vida de volta levando-o a um senso de normalidade e contentamento. Coloque sua confiança em um psicoterapeuta que irá ajudá-lo a perdoar e se curar depois de ser injustiçado por alguém. Em essência, se você é o ofendido, o seu trabalho é ser o mais honesto e aberto possível. Então seu psicoterapeuta será capaz de realmente ouvir, permanecer neutro e traçar um curso para ajudá-lo a superar suas lutas em seus próprios termos.

O que procurar em um psicoterapeuta?

Algumas pessoas lutam para encontrar um psicoterapeuta que seja o ajuste certo para elas. É importante observar as avaliações, o custo, ouvir as referências e fazer uma conexão. A maioria dos psicoterapeutas poderá ajudá-lo com a terapia do perdão, mas o terapeuta certo sempre será aquele com quem você se sentirá mais à vontade para compartilhar detalhes íntimos. Ser capaz de formar um vínculo estreito e se sentir conectado ao seu terapeuta permite que você confie em suas colocações e saiba que eles têm o o maior interesse em ajudá-lo.

O perdão é o processo de mergulhar em si e deixar ir embora a raiva de alguém que lhe causou tanta dor. Esse processo pode ser o caminho para a cura em muitas situações, pois a raiva está frequentemente no centro dos problemas de um paciente e pode ser o centro de vários distúrbios psicológicos.

O modelo de terapia do perdão é flexível o suficiente para ser integrado a qualquer abordagem terapêutica de todos os psicoterapeutas. Promover o perdão na terapia,  envolve descobrir a profundidade da raiva do paciente, obter o compromisso dele de perdoar o ofensor e trabalhar junto com ele, para que desenvolva a capacidade de perdoar.

A fase final desta terapia é a descoberta do significado do que foi tão sofrido, encontrar um novo propósito na vida e explorar as próprias falhas assim como a  necessidade de ser perdoado pelos outros.