Há algo sobre a experiência religiosa comunitária que parece importante para refletirmos. Algo poderoso acontece ali, que melhora a saúde e o bem-estar; e é muito diferente do que vem da prática da espiritualidade solitária e isolada. Claro, que o objetivo do Evangelho não é baixar pressão arterial de ninguém, mas sim conhecer e amar a Deus, conforme você é conhecido e amado por ele. Temos de distinguir entre o florescer imperfeito que é possível nesta vida e a felicidade e alegria perfeitas que se tornarão plenas na vida futura.

Uma série de estudos feitos por grandes e significativas pesquisas bem planejadas, descobriram que a frequência à cultos religiosos está associado a maior longevidade , menos depressão , menos suicídio , menos tabagismo , menos abuso de substâncias , maior sobrevida ao câncer e doenças cardiovasculares , menos divórcio , maior apoio social , vida com maior significado , maior satisfação com a vida , mais participação no voluntariado e maior engajamento cívico .

As descobertas são extensas e crescentes. Estudos recentes foram conduzidos por clínicos e cientistas sociais como Harold Koenig, Byron Johnson, Ellen Idler, David Williams, Robert Putnam, David Campbell e W. Bradford Wilcox, juntamente com a equipe de pesquisadores do Programa de Prosperidade Humana na Universidade de Harvard.

Os médicos que disseram frequentar cultos religiosos com regularidade  tinham 29% menos probabilidade de ficarem deprimidos, cerca de 50% com menos probabilidade de se divorciarem e cinco vezes menos probabilidade de cometerem suicídio, do que aqueles que nunca frequentavam.

Talvez a descoberta mais surpreendente de todas foi que os profissionais de saúde que frequentavam cultos semanais tinha 33% menos probabilidade de morrer durante um período de acompanhamento de 16 anos do que as pessoas que nunca frequentavam culto religioso algum. Esses efeitos são extremamente impactantes, sendo o suficiente para fazer uma diferença prática e não apenas uma diferença estatística.

A educação religiosa  afeta a saúde e o bem-estar ao longo da vida das pessoas. Descobriu-se que a frequência regular a cultos religiosos ajuda a proteger as crianças dos “três grandes” perigos da adolescência: depressão, abuso de substâncias e atividade sexual prematura. As pessoas que os freqüentam  quando crianças também têm maior probabilidade de crescerem felizes, perdoarem, terem um senso de missão, propósito de vida e serem voluntários.

Um dos estudos mais recentes feito com profissionais de saúde indica que os que frequentam cultos religiosos tiveram muito menos “mortes por desespero”, ou seja,  mortes por suicídio, overdose de drogas ou álcool – do que pessoas que nunca compareceram a cultos, o que reduziu essas mortes em 68% para mulheres e 33% para homens no estudo apontado.

Outra via importante pela qual o culto religioso leva à saúde e ao bem-estar pode passar pelo perdão. Muitas religiões conectam o perdão que Deus concede aos pecados humanos ao perdão que concede uns aos outros. Judeus religiosos buscam o perdão de Deus no Dia da Expiação (Yom Kippur), mas somente depois de terem buscado o perdão uns dos outros no dia anterior (Erev Yom Kippur). Para os cristãos, perdoar é uma parte inegociável de sua prática da fé. Muitos cristãos pedem a Deus diariamente que “perdoe nossas dívidas, assim como nós perdoamos nossos devedores” (Mt 6.12), muito embora, mesmo sem essa oração, a Bíblia ensina que os cristãos devem perdoar (Mt 6.15).

As descobertas de muitos estudos indicam que o perdão está relacionado a menos depressão e a mais esperança. O perdão parece atingir esses efeitos ao promover maior controle sobre as emoções da pessoa ao oferecer uma alternativa para que se ressignifique e sublime a raiva ao invés de ruminar incessantemente a respeito dela.

Vejamos que no Evangelho de Mateus, Jesus prescreve um sistema de prestação de contas escalonado para seus seguidores, o tipo de estratégia que pode ajudar as pessoas a viverem bem umas com as outras (18.15,16). Os cristãos, como comunidade, são chamados a ajudarem uns aos outros e a se arrependerem, para assim promoverem uma mudança e reconciliação.

A carta aos Hebreus destaca a importância do ensino da igreja, especialmente quando vivido com os outros: “E considera como nos incentivarmos ao amor e às boas obras, sem deixar de nos reunir, como é hábito de alguns, mas encorajando uns aos outros, e ainda mais à medida que vemos o Dia se aproximando ”(24/10/25, ESV).

Essa prática regular de incentivo e exortação pode explicar alguns dos efeitos da participação em cultos religiosos no apoio social, na redução do divórcio, nos maiores significado e propósito para a vida, na maior satisfação com a vida, em mais doações de caridade, em mais voluntariado e em maior engajamento cívico.

Os resultados da pesquisa sobre religião e saúde não implicam que os médicos devam “prescrever” universalmente a frequência a cultos religiosos. Os agnósticos ficariam compreensivelmente relutantes em recitar o Credo apostólico, mesmo que pensassem que isso ajudaria em sua depressão. O devido cuidado também deve ser tomado para aqueles que, no passado, tiveram experiências negativas ou mesmo sofreram algum abuso em comunidades religiosas; porém, algumas breves perguntas sobre a trajetória espiritual da pessoa já podem ajudar a orientar os profissionais.

Para a maioria dos cristãos, cuja fé lhes diz para se reunir com outros fiéis, ouvir um médico questionar se eles têm participado de cultos pode encorajá-los de uma forma que seu pastor ou um membro da família não poderia. Há algo sobre a experiência religiosa comunitária que parece realmente importante. Algo poderoso acontece ali, que melhora a saúde e o bem-estar; e é muito diferente do que vem da espiritualidade solitária, isolado.

Bem…Os dados são claros: ir ao culto, independente da religião de cada um, continua sendo fundamental para o verdadeiro florescimento do ser humano.

Fonte: https://www.christianitytoday.com/ct/2021/october-web-only/igreja-saude-publica-religiosidade-pt.html

By: Tyler J. VanderWeele é professor de Epidemiologia da cátedra John L. Loeb e Frances Lehman Loeb, na TH Chan School of Public Health de Harvard, e diretor do Human Flourishing Program da Harvard University. Brendan Case é diretor associado de pesquisa do Programa de Prosperidade Humana da Universidade de Harvard e autor de O Animal Responsável: Justiça, Justificativa e Julgamento (T&T Clark).

Traduzido por Mariana Albuquerque.